Estudo dinamarquês comprova o efeito epigenético desencadeado pelo treinamento físico com potencial para prevenir doenças
Há anos, a ciência vem comprovando os benefícios proporcionados à saúde pela prática regular de exercícios físicos. O que até, então, não se sabia é que esses efeitos benéficos podem resultar em parte de mudanças na estrutura do nosso DNA. E essa recém-descoberta dos cientistas da Universidade de Copenhague comprova que com apenas seis semanas de atividade regular já há mudança no DNA do músculo, impactando na redução do risco de diversas doenças.
O geneticista Marcelo Sady, pós-doutor em genética toxicológica e humana, explica que nós somos resultados da interação dos nossos genes com o ambiente, ou seja, ninguém nasce pré-determinado a desenvolver qualquer doença crônica não transmissível. “O que modula a nossa suscetibilidade à maioria das enfermidades crônicas e degenerativas é o nosso estilo de vida, em outras palavras, a alimentação, a carga de atividade física e o nível de estresse a que estamos submetidos. E, embora seja amplamente divulgado que o exercício físico regular diminua o risco de uma lista de problemas, os mecanismos genéticos pelos quais isso acontece ainda não eram plenamente conhecidos”.
Para entender como isso acontece, ele relembra que “o DNA é o manual de instruções molecular encontrado em todas as células. Algumas seções do nosso DNA são genes, que trazem instruções para formar proteínas — os blocos de construção do corpo —, enquanto outras seções são chamadas de acentuadores, que regulam quais genes são ligados ou desligados, quando e em que tecido”.
Essa explicação genética ajuda a compreender ainda mais como a atividade física regular minimiza o risco de uma série de problemas, tais como doenças cardiovasculares e neurológicas, diabetes tipo 2, câncer e mortalidade precoce.
No estudo titulado ‘A religação epigenética de intensificadores do músculo esquelético após o treinamento de exercício tem um papel na função de todo o corpo e na saúde humana’ (traduzido do inglês), os pesquisadores dinamarqueses recrutaram jovens saudáveis, entre 23 e 27 anos, e os submeteram a um programa de exercícios de resistência de seis semanas, com sessões de 60 minutos de spinning cinco vezes por semana. Neste período, eles coletaram uma biópsia do músculo da coxa antes e depois da intervenção e examinaram se mudanças na assinatura epigenética do DNA ocorreram após o treinamento. “Os cientistas observaram que, depois de completar o programa de treinamento de resistência, a estrutura de muitos estimuladores no músculo esquelético dos jovens foi alterada. Ao conectar esses ‘intensificadores’ a bancos de dados genéticos, eles descobriram que essas mesmas regiões do genoma já foram associadas a certas enfermidades”, conta o geneticista.
Diante dos resultados da pesquisa, Sady afirma que agora “há evidências de um efeito epigenético desencadeado pelo treinamento físico com potencial para prevenir doenças”. E ele finaliza afirmando que “essa é uma nova e importante contribuição da ciência para entender e incentivar o papel de um estilo de vida ativo e saudável”.