Estudo sugere que praticantes de atividade física, independentemente do peso, apresentam menor risco para doenças cardíacas e morte prematura
Para uma saúde melhor e uma vida mais longa, os exercícios físicos são mais importantes do que a perda de peso. Essa é a conclusão de uma revisão publicada na edição de setembro da revista iScience que teve como base resultados de outros estudos anteriores sobre as relações entre condicionamento físico, peso, saúde cardíaca e longevidade. A análise revelou que homens e mulheres obesos ou com sobrepeso reduzem mais os riscos de doenças cardíacas e morte prematura praticando atividades físicas do que fazendo dietas. “Em termos de risco de mortalidade, é melhor aumentar sua atividade e melhorar o condicionamento físico do que perder peso intencionalmente”, diz Glenn Gaesser, coautor do estudo e professor de fisiologia do exercício da Universidade Estadual Arizona, em Phoenix, nos Estados Unidos.
Ele, que por décadas tem estudado os efeitos dos exercícios físicos na composição corporal, no metabolismo e na resistência das pessoas, particularmente em obesos, observa que muitas pesquisas enfatizam a prática de exercícios apenas para emagrecer. Só que os resultados não são tão animadores se essa for a única intenção. “Em um experimento de 2015, por exemplo, 81 mulheres sedentárias com sobrepeso começaram uma nova rotina de caminhada três vezes por semana durante 30 minutos. Destas, 55 ganharam peso após 12 semanas”, aponta.
Em outras pesquisas de laboratório, porém, Gaesser indica que pessoas com sobrepeso e obesas com significativos problemas de saúde como pressão alta, alta de colesterol ou resistência à insulina – um marcador para diabetes tipo 2- mostraram melhoras consideráveis após iniciarem a prática de exercícios físicos, independentemente da perda de peso. O professor percebeu que era a melhora do condicionamento físico que permitia uma boa saúde metabólica para essas pessoas quaisquer que fossem seus números de massa corporal, e por isso, poderiam viver tanto quanto as mais magras – ou até mais.
Para esse novo levantamento, Gaesser e o pesquisador Siddhartha Angadi, professor de educação e cinesiologia da Universidade da Virgínia, estavam especialmente interessados em meta-análises, que reúnem e analisam dados de pesquisas anteriores, para observar os resultados obtidos a partir de amostragens significativas. Após revisar mais de 200 meta-análises e estudos específicos, concluíram que a maioria dos obesos apresentou evolução do quadro de saúde ao começar a se movimentar. “Comparado diretamente, a magnitude do benefício foi muito maior com a melhora do condicionamento físico do que com a perda de peso”, afirma Gaesser.
Como um todo, os estudos mostram que homens e mulheres obesos e sedentários que começam a se exercitar reduzem o risco de morte prematura em até 30% ou mais, mesmo que seu peso não mude. “Essa melhora geralmente os coloca em menor risco de morte precoce do que as pessoas que têm peso normal, mas estão fora de forma”, explica o pesquisador. Por outro lado, se os indivíduos perdem peso com dieta – e não em razão de enfermidades – o risco estatístico de morrer jovem cai cerca de 16%.
Mas, de acordo com Gaesser, quem perde quilos com dieta tem a tendência a recuperá-lo depois, entrando em uma situação ioiô que muitas vezes contribui para problemas metabólicos como diabetes.
“A atividade física também combate essas condições” disse. A prática pode ajudar na redistribuição dos estoques de gordura no organismo. “Indivíduos com obesidade geralmente perdem alguma gordura visceral, muito prejudicial, quando fazem exercícios”, disse ele, mesmo que a perda de peso geral seja insignificante. “A principal lição da nova revisão é que você não precisa perder peso para ser saudável. Mas tem que praticar atividade física”, concluiu.
Por Simone Blanes para Veja